sexta-feira, 1 de maio de 2015

Depois dos dezoito


Parei pra refletir sobre isso. O desenrolar do crescimento, o quanto as coisas que pareciam surpreendentes e inovadoras vão se tornando bobas e previsíveis.
Enquanto sento numa mesa de bar, na sala, na beira da cama, no desconforto do ônibus, me pergunto se vale a pena se perguntar. Depois dos dezoito as coisas vão mudando e numa velocidade que as vezes não conseguimos acompanhar. O trago do cigarro muda, o sorver da bebida deixa de amargar, o olhar deixa de se retrair e o que foi dito não tem porque ser apagado.
Uma pessoa me disse que "A gente fica calejado com as coisas que passamos e, por proteção, chegamos já pensando em ir embora". 
Depois dos dezoito começamos um jogo mental sobre valorizar e desvalorizar, começamos a dar passos mais calmos, sem esperar nada de nada, nem de ninguém. Oh Diabos, é realmente necessário colocar a carga de nossos sonhos, cultura e criação nos ombros alheios? Depois dos dezoito percebemos que não.
E curtimos e discutimos sobre as espinhas que tivemos, os foras que levamos, os amores em silêncio, os amores gritados, os amigos, as brigas, tudo aquilo que nos fazia sentido e que hoje são risadas.
O interessante é o mundo novo, perceber que os "para sempre" são realmente eternos, em nossa memória. Que mesmo com dor nas pernas, nas costas, na consciência, a coisa toda vale a pena no final das contas. Viver é aquele outro jogo sobre se conhecer, conhecer o outro e fazer disso o "todo". De experiências emocionais, sexuais, intelectuais, de namoros e casamentos frustrados, de filhos que são o simbolo da nossa eternidade, da nossa criação tão diferente, das gírias que aprendemos, das músicas que escutamos, do se reinventar.
Depois dos dezoito a gente percebe que até o que "não vale a pena" vale a pena. As rugas e cicatrizes são histórias, nossas memorias olfativas nos causam alguns constrangimentos engraçados e  se as roupas velhas pudessem falar provavelmente atearíamos fogo nelas.
Na altura do campeonato percebemos que o "ter que se valorizar" pode ter diversos sentidos e que nem sempre seguem a maldita convenção dos malditos donos da verdade. Podemos ligar no outro dia, após o sexo, podemos dizer que nos interessamos, podemos convidar pra sair, pagar a conta e enviar flores. Para homens, para mulheres, para assexuados, depois dos dezoito notamos que o tal valor está mais no que a pessoa significa pra nós do que os outros acham. Aliás, depois dos dezoito "os outros são os outros e só" (parafraseando meu querido Leoni).
Depois dos dezoito tem um algo diferente a descobrir ou redescobrir, depois dos dezoito o caos é amigo, a bebida é aparato e a alegria ou tristeza não precisam ser aparentes.

Relatos de uma velha louca.

Um comentário:

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